quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O PODER LOUCO DO DINHEIRO

. António Pereira a Segunda-feira, 17 de Janeiro de 2011 às 23:00. O poder do dinheiro e o dinheiro
do poder sempre foram inseparáveis. A loucura pelo dinheiro e o poder louco caminham de braço
dado, fustigados pela avidez ascética e pelos prazeres reduzidos a dejectos da carência afectiva.
O que era inerente ao despotismo absoluto e às suas extravagâncias, sob Sardanapalo ou Estaline,
penetra hoje no âmago da existência comum para o petrificar sob a aparência do mais razoável
espirito democrático. O gládio e a pistola do carrasco cederam lugar às ordens da Bolsa.
O poder do totalitarismo financeiro que se estendeu aos quatro cantos do Mundo cobre o planeta de
uma atmosfera poluída, verdadeira «noite e nevoeiro», onde as sombras vão e vêm seguindo o curso
flutuante dos dividendos. Como um gás incapacitante, as exalações da tirania lucrativa penetram na
carne dos Homens, das mulheres e das crianças para acabar por corromper completamente a vida
mais elementar.
De meio indispensável para obter meios de subsistência, o dinheiro, elevado à condição de Fetiche
supremo pela curva hiperbólica do lucro, acabou por servir apenas para se reproduzir a ele próprio
nos circuitos fechados da especulação. O dinheiro «enlouqueceu» à força de rodopiar sobre ele
próprio, como uma serpente ouruboros devorando a sua própria cauda. Simultaneamente, o poder
que dele emana e do qual é a sua emanação desligou-se por sua vez das realidades terrestres, onde
cada individuo, com um mal estar crescente, procura acomodar-se ao seu absolutismo de direito
divino. A acumulação financeira levou o parasitismo
capitalista ao seu paroxismo. Um punhado de burocratas, mestres incertos de organismos
supranacionais e duvidosos, gestores dessas máfias que se chamam " Trusts ", lóbis, ou
multinacionais, esforçam-se por impor as leis da rentabilidade e do desregulamento social ao
conjunto das populações do globo. Dos guettos
da miséria à miséria dos ghettos de luxo, a consciência mercenária suplanta a consciência Humana.
O bom uso da rapacidade passa cartôes de crédito ao desprezo pelos outros, permitindo - fechar
escolas, rendibilizar o ensino, enfurecer os estudantes amontoados nas salas de aula e recorrer,
depois, aos métodos policiais para os acalmar. E que vemos pela frente? Um desprezo idêntico a si
próprio, que se exterioriza no vandalismo, partindo montra e carros, quando não reveste a
impotência pacífica das manifestações de massas. Longe de impedir esta súcia de prejudicar os
outros, vemos a maioria concordar com a enormidade das suas mentiras, aceitar reduções de salário,
curvar a espinha sob ameaça do desemprego, cair no desespero, plebiscitar demagogos, deitando-se
como cães aos pés do dono, em vez de espevitarem e de arriscarem da vida e do desejo.
Ora, que precisam eles para aplicar o seu programa? Que sejamos seus iguais, tão vazios,
inconsequentes e mortiferos quanto eles; que, por iniciativa própria nos acomodemos com uma
existência mutilada e que soframos com eles os seus tormentos, nas incertezas dos negócios e na fé
dos Mercados, e, bem atentos aos boletins de saúde jornalisticos incitando-nos a portámo-nos mais
ou menos bem, consoante os negócios piorarem ou « a crise chegar ao seu termo».
Deste modo, o grito das revoltas sem esperança e das críticas sem efeito mistura-se às suas vitórias,
onde os únicos vencedores são o dinheiro e a morte. (Continua)
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