quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A LUTA CONTRA O DESPOTISMO ECONÓMICO TEM DE DEIXAR DE SITUAR NO TERRENO DO ADVERSÁRIO

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por António Pereira a Terça-feira, 8 de Fevereiro de 2011 às 22:11

O pensamento revolucionário, que pretendia erigir-se ontem em ferro de lança do proletariado, nunca fez outra coisa a não ser
reproduzir a velha ditadura do "Espirito" sobre o corpo. A separação entre a linguagem das ideias e a expressão do desejo de viver
nunca parou de aumentar com a omnipresença de uma encenação em que o Individuo e a Sociedade perdem o seu valor de uso
em proveito de um valor de troca que os representa no Mercado e que, ao retirar-lhes a vivência da sua realidade, a substitui por
outra, lucrativa. A mercadoria de rosto humano tende a ocupar o lugar do individuo concreto enquanto, as flutuações da massa
monetária virtual determinam o curso caótico do Mundo. O território da vida quotidiana a libertar é a única base a partir da
qual a luta pode ser empreendida contra a economia de exploração. O militante encarna com dor esta separação entre função
intelectual e a manual que caracteriza o trabalho. Coloca o seu corpo ao serviço do espirito. Economiza-se a ele próprio e aguarda
por uma emancipação transcendente que o liberte da economia. Não é de espantar que passe tão espontaneamente da indignação
pacífica aos frenesins da impotência.
Denuncia as imposturas do espirito que celebra o clientelismo económico, mas o espirito de resistência que o anima faz
parte da mesma impostura.É apanhado na armadilha das armadilhas que pretende desmascarar.A sua profissão de fé implica a
crença nos simbolos, que manipula sem sequer se aperceber até que ponto são eles a manipulá-lo. Por trazer a
marca da consciência arrancada ao corpo e à terra, o simbolo guarda a lembrança recorrente de um sacrificio original, o da
vitalidade do Homem oferecida em holocausto ao trabalho da gleba, o que desmembra e devora todo o vivente desde a instauração
das primeiras sociedades agrárias.Nos primórdios, as sociedades agrárias escolhiam um pobre-diabo,atribuiam-lhe poder divino
durante meses, antes de o condenarem à morte a um tempo real e simbólica, a sina da semente dispersa,cega, sufocada e
enterrada, que renasce à luz do céu, provedora de alimento. Através do simbolo, o sacrificio do corpo posto ao trabalho é exaltado
ritualmente na tragédia da vida individual sacrificada à sobrevivência da Espécie.E é à Mercadoria Salvadora - ao valor de troca -
que o suplicio da carne é dedicado como oferta ao Divino. O simbolo mutila, arrastando consigo o bode expiatório, condenado à
morte para exorcizar o terrivel sentimento dos eleitos de estarem excluidos da vida.
O Deus do Islão sopra as torres de Wall Street e o Deus dos Cristãos submete a Gomorra afegã ao fogo celeste de
máquinas voadoras, cujo preço bastaria para reconstruir um País onde a flora, a fauna, a Humanidade e a sua consciência foram,
ofertas em Holocausto do Deus único do Lucro e dos Exércitos.