sábado, 29 de novembro de 2014

A RECONSTRUÇÃO DO TECIDO URBANO E SOCIAL


Desejais erradicar a agressividade, a delinquência, o crime e o mercado securitário
que deles retira o seu proveito?

Dizer não à agressividade e à violência não é fechar-se no circulo onde o
mêdo histérico reclama o terror repressivo, é aprender, em primeiro lugar,a
lutar, no terreno da sobrevivência quotidiana, a combater, com as armas do
saber, da criação, do jogo, da gratuidade, da solidariedade, contra a miséria
material e psicológica, contra a exclusão, a desolação e esse vazio interior
que alimenta a raiva de destruição destruindo-se a ele próprio.

È logo na infância que devemos acabar com os comportamentos predatórios
encorajados em toda a parte pela incitação ao consumo, a um lucro cada
vez maiores, a exprimir-se apenas em termos de concorrência, competição
e rentabilidade.

Só uma politica de gestão do nosso ambiente imadiato poderá arrogar-se os
meios para acabar com este exercicio de terror que, da grande à pequena
delinquência responde ao apelo conjunto do fetichismo do dinheiro e da
vacuidade existêncial.

Estamos fartos desse discurso humanista com que a classe politica embeleza
as suas prevaricações e rivalidades de poder. Cabe aos comités
de quarteirões e às associações de cidadãos propagar os principios da
democracia directa praticando uma abordagem humana dos problemas
sociais e psicológicos. Investir nos quarteirões desfavorecidos,
multiplicando neles as escolas, os ateliês de criação, os centros de solidariedade,
os rios de descobertas, os conselhos da defesa das liberdades,
levaria a curto prazo a reduzir as despesas atribuídas à repressão
policial, à justiça, às prisões, aos cuidados de saúde, aos serviços de
limpeza.

À centralização dos serviços estatais e privados, que cobram muito caro
pela pela sua terrificante protecção, não podíamos opor uma intervenção
colectiva, ou seja, instaurar territórios libertos da ditadura do lucro, zonas
onde não haja mulher, homem ou criança que tenham de temer as violências
engendradas pela opressão, pela miséria, pelo tédio, pelo desespero
e pela frustração.

Entregar as ruas à despreocupação dos veraniantes e aos jogos das crianças
reclama um pouco de iniciativa e de imaginação.É preciso embelezá-las, oferecendo
aos habitante os meios para promoção do encanto, pois nada desencoraja
mais o vândalismo do que a beleza; criação de zonas pedestres,
melhorar os transportes publicos, promover as viaturas não poluentes, garantir
a todos o direito ao alojamento, desencorajar a formação urbanística
de guetos de ricos e de pobres, desinfectar o tecido urbano implantando em
toda a parte, jardins, hortas públicas, ilhéus com bosques. A reconstrução
do ambiente implica a reconquista do território por uma população liber -
tando-se dos seus reflexos de medo e de perseguição, que ouse estar pre -
sente não para reprimir a delinquência, mas para dissuadir o seu exercicio,
devolvendo a consciência de uma ingerência solidária disposta a não tolerar
qualquer agressão.
É aí, na libertação de territórios tradicionalmente submetidos à cumplicidade
do crime e da repressão policial, que os direitos do ser humano
encontrarão os seus verdadeiros suportes e não nas oficinas governamentais
onde a realidade começa por ser apreendida em termos estatísticos
e de preço de custo. Não seremos nós capazes de assegurar nas
nossas casas, nas nossas ruas, no nosso quarteirão, nas nossas cidades,
não o poder, mas preeminência e a alegria daqueles e daquelas que
exprimem, no seu estado bruto, uma vida em perpétuo renascimento?