sábado, 13 de setembro de 2014

Manifesto da Internacional Situacionista


Manifesto da Internacional Situacionista Uma nova força humana, que a estrutura existente não poderá dominar, cresce dia adia com o irresistível desenvolvimento técnico e a insatisfação de seus usos possíveisem nossa vida social carente de sentido. A alienação e a opressão nesta sociedade não podem ser mantidas sob qualquer umade suas variantes, mas somente rejeitadas em bloco com esta mesma sociedade. Todoprogresso real fica evidentemente em suspenso até a solução revolucionária da crisemultiforme do presente. Quais são as perspectivas de uma organização da vida em uma sociedade que  autenticamente "reorganiza a produção sobre as bases de uma associação livre e igual de produtores"?
A automatização da produção e a socialização dos bens vitais reduzirão cada vez mais o trabalho como necessidade exterior e proporcionarão,finalmente, a liberdade completa para o indivíduo. Livre assim de todaresponsabilidade econômica, livre de todas as dívidas e culpas para com o passado e opróximo, o homem disporá de uma nova mais-valia incalculável em dinheiro porque éimpossível reduzi-la para a medida do trabalho assalariado: o valor do jogo, da vidalivremente construída. O exercício de tal criação lúdica é a garantia da liberdade decada um e de todos na estrutura da única igualdade garantida contra a exploração dohomem pelo homem. A liberação do jogo é a autonomia criativa, que supera a velhadivisão entre o trabalho imposto e o ócio passivo. A igreja queimou noutros tempos os pretensos feiticeiros para reprimir as tendênciaslúdicas primitivas conservadas nas festas populares. Na sociedade hoje dominante,que produz massivamente tristes pseudo-jogos da não-participação, uma atividadeartística verdadeira é forçosamente classificada no campo da criminalidade. Ésemiclandestina. Surge na forma de escândalo. Que é isso, de fato, mais que a situação? Se trata da realização de um jogo superior,que mais exatamente é provocada pela presença humana. Os jogadoresrevolucionários de todos os países podem reunir-se na Internacional Situacionista paracomeçar a sair da pré-história da vida quotidiana. A partir de agora, propomos uma organização autônoma dos produtores da novacultura, independentes das organizações políticas e sindicais que existem nestemomento, pois questionamos a capacidade delas de organizar outra coisa que amanutenção do que existe. O objetivo mais urgente que estabelecemos a tal organização, no momento em quedeixa o estágio inicial experimental para uma primeira campanha pública, é a tomadada UNESCO. A burocratização, unificada em escala mundial, da arte e de toda a culturaé um fenômeno novo que expressa o profundo parentesco dos sistemas sociaiscoexistentes no mundo, sobre a base da conservação eclética e a reprodução dopassado. A resposta dos artistas revolucionários a estas novas condições deve ser umnovo tipo de ação. Como a existência mesma desta concentração administrativa dacultura, localizada em uma construção única, favorece o roubo por meio do golpe ecomo a instituição é completamente destituída de qualquer senso de uso fora de nossaperspectiva subversiva, nos achamos justificados diante de nossos contemporâneospara tomarmos tal aparato. E o faremos .
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Estamos decididos a nos apossarmos da UNESCO, mesmo que por pouco, já queestamos seguros de fazer disso rapidamente uma obra que permanecerá, paraesclarecer uma longa série de perguntas, como a mais significativa. Quais deverão ser os principais caracteres da nova cultura e como ela se comparariacom a arte antiga? Contra o espetáculo reinante, a cultura situacionista realizada introduz a participaçãototal. Contra a arte conservada, é um organização do momento vivido diretamente. Contra a arte parcelar, será uma prática global que se dirija ao mesmo tempo sobretodos os elementos utilizados. Tende naturalmente a uma produção coletiva e, semdúvida, anônima (pelo menos na medida em que, ao não estar as obras armazenadascomo mercadorias, tal cultura não estará dominada pela necessidade de deixar traços).Suas experiências se propõem, como mínimo, uma revolução do comportamento e umurbanismo unitário, dinâmico, suscetível de estender-se ao planeta inteiro; e de serprolongado seguidamente a todos os planetas habitáveis. Contra a arte unilateral, a cultura situacionista será uma arte do diálogo, uma arte dainteração. Os artistas – com toda a cultura visível – chegaram a estar completamenteseparados da sociedade, do mesmo modo que estão separados entre si pelaconcorrência. Mas antes inclusive deste corredor sem saída do capitalismo, a arte eraessencialmente unilateral, sem resposta. Superará esta era fechada do primitivismopor uma comunicação completa. Ao ser, em um estágio avançado, todo mundo artista, isto é, inseparavelmenteprodutor-consumidor de uma criação cultural, se assistirá a dissolução rápida docritério linear de novidade. Ao se tornar todo mundo, por assim dizer, situacionista, severá a uma inflação multidimensional de tendências, de experiências, de "escolas"radicalmente diferentes e isto não já sucessivamente, mas simultaneamente. Inauguramos agora o que será, historicamente, o últimos dos ofícios. O papel desituacionista, de amador-profissional, de anti-especialista, é ainda uma especializaçãoaté o momento da abundância econômica e mental no qual todo mundo se tornará"artista", num sentido que os artistas não alcançaram: a construção da própria vida.Entretanto, o último ofício da história é tão próximo da sociedade sem divisãopermanente do trabalho, que quando aparece, seu estado de ofício foi negado. Aos que não nos compreenderam bem dizemos com um irredutível desprezo: ossituacionistas, de quem vocês acreditam serem os juízes, vos julgarão um dia ououtro. Esperamos vocês no momento crucial que é a inevitável liquidação do mundo daescassez, sob todas as suas formas. Estes são nossos fins e serão os fins futuros dahumanidade. Internationalle Situationniste nº 4, 1960Fonte: Biblioteca Virtual Revolucionária (www.geocities.com/autonomiabvr/).Internacional Situacionista Publicado em Internationalle Situationniste nº 4, 17 demaio de 1960, trad. de Juan Fonseca publicada en DEBATE LIBERTARIO 2 - Se