quinta-feira, 10 de maio de 2018

“Lisboa, cidade triste e alegre”: o retrato em movimento que de livro passou a exposição.




A década de 1950 decorreu sem grandes sobressaltos para o regime autoritário vigente em Portugal desde 1926, até 1958, ano em que o general Humberto Delgado decidiu enfrentá-lo, apresentando-se como candidato nas eleições para a presidência da República.

Esta candidatura agitou o país e fez tremer o poder que, rapidamente e de forma violenta, afastou o general de uma vitória certa.

A década de 1950 decorreu sem grandes sobressaltos para o regime autoritário vigente em Portugal desde 1926, até 1958, ano em que o general Humberto Delgado decidiu enfrentá-lo, apresentando-se como candidato nas eleições para a presidência da República. Esta candidatura agitou o país e fez tremer o poder que, rapidamente e de forma violenta, afastou o general de uma vitória certa.

Em termos artísticos, o período do pós-guerra iniciou-se com a I Exposição Geral de Artes Plásticas, em 1946. Os anos seguintes foram de intensa actividade, embora a repressão de 1949 tenha também atingido artistas e intelectuais. Foi por estes anos que o movimento neo-realista produziu obras emblemáticas, como o quadro de Júlio Pomar “Almoço do trolha” (1946-1950), que Fernando Lanhas se iniciou no abstraccionismo geométrico e que o movimento surrealista começou a tomar visibilidade. No início da década de 50, os trabalhos fotográficos esteticamente mais inovadores foram apresentados por Fernando Lemos, numa exposição realizada em Lisboa, em 1952, onde expuseram também os seus trabalhos, Fernando Azevedo e Marcelino Vespeira. No final da década, as fotografias que em termos estéticos mais se aproximavam do que se produzia internacionalmente, pertenciam aos arquitectos Victor Palla (n. 1922) e Manuel Costa Martins (1922-1995).

O livro intitulado Lisboa, cidade triste e alegre foi editado em 1959, embora as fotografias que o compõem tenham sido primeiro apresentadas numa exposição realizada em 1958. Durante vários dias e noites Victor Palla e Costa Martins misturaram-se com os habitantes de Lisboa, sobretudo com os de Alfama e Bairro Alto, e registaram, a preto e branco, o triste e alegre quotidiano dessas muitas e desvairadas gentes. Deste registo, resultaram seis mil fotografias, das quais os seus autores escolheram cerca de duzentas para integrar o livro. Fizeram-nas acompanhar de excertos de poemas de autores portugueses, como Jorge de Sena, David Mourão Ferreira e José Gomes Ferreira, optando, deliberadamente, por não as identificar, em termos de autoria. O livro foi um fiasco editorial. O público foi indiferente – ou recusou-o por não o entender – a este verdadeiro “poema gráfico” de Lisboa e dos seus habitantes. Como consequência deste desinteresse generalizado, ele constitui uma obra rara, díficil de encontrar disponível para consulta. A Biblioteca de Arte, graças à doação da colecção particular de Pedro Miguel Frade, é uma das poucas a possuir no seu fundo documental este livro, tão importante para a história da fotografia em Portugal.


















































Por António Pereira em Abril de 2018