A Geração de 68
Faz
este ano 50 anos dos acontecimentos
conhecidos como o "maio de 68"que
culmina-
ram em revoltas Estudantis e Operárias contra um
Governo ultraconservador presidido
Introdução e composição de António Pereira em Maio de 2018
por DeGaulle.
Aquilo que
fica na memória colectiva são os desacatos entre manifestantes e a policia de
choque que foi noticiado pelos "Mass Mé-
dia", dizendo que foi organizado por um grupo
de vândalos que apenas queriam destabilizar a Republica Francesa. Era o
"Sistema Burguês" e Mercantil que procurava camuflar o perigo para os
seus interesses económicos ascendentes (E confirmados décadas depois) que
estavam em duvida por toda uma camada social, politica e artística emancipada e
activa.
O que estava
em causa era a própria Sociedade Ocidental, com seus dogmas, alienações e modo
de vida. Combater o consumo da mercadoria e sua Sociedade do Espectáculo, onde
o povo é mero espectador do que se passa à sua volta, restando-lhe uma vida sem liberdade dos gestos, do corpo,
onde o quotidiano é, apenas uma alienação.
Este foi o
Movimento que pôs em causa a nossa dita, “Civilização Ocidental". Denominado
Internacional Situacionista, cunhou uma estratégia para por em causa a
visão que temos Mundo, ou aquela que o "Sistema Capitalista" quer que
nós tenhamos com verdade absoluta.
Para melhor
compreender este Movimento que ainda existe pela Europa, será melhor ler o Manifesto
da Internacional Situacionista, para além de outros Link's onde se
pode obter mais informação.
Texto de António
Pereira. Não subscreve o Novo Acordo Ortográfico.
/.../
Manifesto da Internacional Situacionista
Uma nova força humana, que a estrutura
existente não poderá dominar, cresce dia a
dia com o irresistível desenvolvimento
técnico e a insatisfação de seus usos possíveis
em nossa vida social carente de sentido.
A alienação e a opressão nesta sociedade
não podem ser mantidas sob qualquer uma
de suas variantes, mas somente rejeitadas
em bloco com esta mesma sociedade. Todo
progresso real fica evidentemente em
suspenso até a solução revolucionária da crise
multiforme do presente.
Quais são as perspectivas de uma
organização da vida em uma sociedade que
autenticamente "reorganiza a
produção sobre as bases de uma associação livre e igual
de produtores"? A automatização da
produção e a socialização dos bens vitais
reduzirão cada vez mais o trabalho como
necessidade exterior e proporcionarão,
finalmente, a liberdade completa para o
indivíduo. Livre assim de toda
responsabilidade econômica, livre de
todas as dívidas e culpas para com o passado e o
próximo, o homem disporá de uma nova
mais-valia incalculável em dinheiro porque é
impossível reduzi-la para a medida do
trabalho assalariado: o valor do jogo, da vida
livremente construída. O exercício de tal
criação lúdica é a garantia da liberdade de
cada um e de todos na estrutura da única
igualdade garantida contra a exploração do
homem pelo homem. A liberação do jogo é a
autonomia criativa, que supera a velha
divisão entre o trabalho imposto e o ócio
passivo.
A igreja queimou noutros tempos os
pretensos feiticeiros para reprimir as tendências
lúdicas primitivas conservadas nas festas
populares. Na sociedade hoje dominante,
que produz massivamente tristes
pseudo-jogos da não-participação, uma atividade
artística verdadeira é forçosamente
classificada no campo da criminalidade. É
semiclandestina. Surge na forma de
escândalo.
Que é isso, de fato, mais que a situação?
Se trata da realização de um jogo superior,
que mais exatamente é provocada pela
presença humana. Os jogadores
revolucionários de todos os países podem
reunir-se na Internacional Situacionista para
começar a sair da pré-história da vida
quotidiana.
A partir de agora, propomos uma
organização autônoma dos produtores da nova
cultura, independentes das organizações
políticas e sindicais que existem neste
momento, pois questionamos a capacidade
delas de organizar outra coisa que a
manutenção do que existe.
O objetivo mais urgente que estabelecemos
a tal organização, no momento em que
deixa o estágio inicial experimental para
uma primeira campanha pública, é a tomada
da UNESCO. A burocratização, unificada em
escala mundial, da arte e de toda a cultura
é um fenômeno novo que expressa o
profundo parentesco dos sistemas sociais
coexistentes no mundo, sobre a base da
conservação eclética e a reprodução do
passado. A resposta dos artistas
revolucionários a estas novas condições deve ser um
novo tipo de ação. Como a existência
mesma desta concentração administrativa da
cultura, localizada em uma construção única,
favorece o roubo por meio do golpe e
como a instituição é completamente
destituída de qualquer senso de uso fora de nossa
perspectiva subversiva, nos achamos
justificados diante de nossos contemporâneos
para tomarmos tal aparato. E o faremos .
Estamos decididos a nos apossarmos da UNESCO, mesmo que por
pouco, já que
estamos seguros de fazer disso rapidamente uma obra que
permanecerá, para
esclarecer uma longa série de perguntas, como a mais
significativa.
Quais deverão ser os principais caracteres da nova cultura e
como ela se compararia
com a arte antiga?
Contra o espetáculo reinante, a cultura situacionista
realizada introduz a participação
total.
Contra a arte conservada, é uma organização do momento
vivido diretamente.
Contra a arte parcelar, será uma prática global que se
dirija ao mesmo tempo sobre
todos os elementos utilizados. Tende naturalmente a uma
produção coletiva e, sem
dúvida, anônima (pelo menos na medida em que, ao não estar
as obras armazenadas
como mercadorias, tal cultura não estará dominada pela
necessidade de deixar traços).
Suas experiências se propõem, como mínimo, uma revolução do
comportamento e um
urbanismo unitário, dinâmico, suscetível de estender-se ao
planeta inteiro; e de ser
prolongado seguidamente a todos os planetas habitáveis.
Contra a arte unilateral, a cultura situacionista será uma
arte do diálogo, uma arte da
interação. Os artistas – com toda a cultura visível –
chegaram a estar completamente
separados da sociedade, do mesmo modo que estão separados
entre si pela
concorrência. Mas antes inclusive deste corredor sem saída
do capitalismo, a arte era
essencialmente unilateral, sem resposta. Superará esta era
fechada do primitivismo
por uma comunicação completa.
Ao ser, em um estágio avançado, todo mundo artista, isto é,
inseparavelmente
produtor-consumidor de uma criação cultural, se assistirá a
dissolução rápida do
critério linear de novidade. Ao se tornar todo mundo, por
assim dizer, situacionista, se
verá a uma inflação multidimensional de tendências, de
experiências, de "escolas"
radicalmente diferentes e isto não já sucessivamente, mas
simultaneamente.
Inauguramos agora o que será, historicamente, o últimos dos
ofícios. O papel de
situacionista, de amador-profissional, de anti especialista,
é ainda uma especialização
até o momento da abundância econômica e mental no qual todo
mundo se tornará
"artista", num sentido que os artistas não
alcançaram: a construção da própria vida.
Entretanto, o último ofício da história é tão próximo da
sociedade sem divisão
permanente do trabalho, que quando aparece, seu estado de
ofício foi negado.
Aos que não nos compreenderam bem dizemos com um irredutível
desprezo: os
situacionistas, de quem vocês acreditam serem os juízes, vos
julgarão um dia ou
outro. Esperamos vocês no momento crucial que é a inevitável
liquidação do mundo da
escassez, sob todas as suas formas. Estes são nossos fins e
serão os fins futuros da
humanidade.
Internationalle Situationniste nº 4, 1960
Fonte: Biblioteca Virtual Revolucionária (www.geocities.com/autonomiabvr/).
Internacional Situacionista Publicado em Internationalle
Situationniste nº 4, 17 de
maio de 1960, trad. de Juan Fonseca publicada en DEBATE
LIBERTARIO 2 - Serie.
Introdução e composição de António Pereira em Maio de 2018