quarta-feira, 29 de maio de 2019

Na Demanda da Biblioteca de Fernão de Magalhães




Roteiros náuticos, descrições geográficas e relatos de viagem que o navegador português Fernão de Magalhães terá analisado, fazem parte de uma exposição bibliográfica que é inaugurada quinta-feira na Biblioteca Nacional de Portugal
(BNP), em Lisboa.


A mostra, intitulada "Em demanda da biblioteca de Fernão de Magalhães", e que pode ser visitada até 13 de maio, apresenta obras que o navegador português terá estudado para projectar a expedição que há 500 anos iniciou ao serviço de Espanha, com destino às ilhas das especiarias, e que daria origem à primeira viagem de circum-navegação da história.
Rui Loureiro, historiador e comissário da iniciativa, explica ao JN que o conceito assenta em três compromissos; o de imaginar que livros é que Magalhães teria consultado, o de procurar nas colecções da BNP edições anteriores à partida dele, em 1519, e o de descobrir cronistas imediatamente posteriores à viagem e que falaram disso".
O comissário sublinha que, de concreto, apenas há testemunhos sobre um dos títulos que o navegador possuiu: um cronista espanhol refere que ele teria na mão o "Itinerario", de Ludovico de Varthema, quando foi recebido pelo rei de Espanha, Carlos I, em 1518. Na exposição figura umas das primeiras edições desta obra.
Em exibição estarão ainda relatos de viagem que Magalhães terá analisado, destacando-se a edição espanhola do "Livro de Marco Polo", publicada em Sevilha em 1518, onde Magalhães então vivia, e a edição do "Almanach perpetuum", de 1496, que, de acordo com Rui Loureiro, "é muito rara" e que "alguns cronistas dizem que os pilotos da armada de Magalhães utilizaram um exemplar desta edição no litoral do Brasil".
São igualmente relevados relatos e crónicas que referem o navegador português, salientando-se a reprodução do relato de Antonio Pigafetta, o italiano que descreveu detalhadamente o feito; e o manuscrito de Gaspar Correia (cedido pelo Arquivo Nacional Torre do Tombo), que é a primeira crónica portuguesa que menciona a viagem de Magalhães.
Também se mostram outras peças, incluindo reproduções de mapas como o semi-planisfério em projecão polar austral, que foi provavelmente preparado durante a viagem, e cujo original se conserva no Palácio Topkapi, em Istambul.
Fernão de Magalhães sucumbiu próximo de atingir as "ilhas das especiarias" pela via ocidental, contornando assim o Tratado de Tordesilhas (1494), que impedia os espanhóis de navegar para o Oriente via Cabo da Boa Esperança, reservada em exclusivo aos portugueses. Incompatibilizado com D. Manuel I de Portugal, a quem serviu e que lhe recusou a mercê a que o navegador considerava ter direito, partiu de Sevilha em Aegosto de 1519, ao serviço de Carlos I de Espanha, comandando uma expedição de cinco navios, que acabaria por se transformar na primeira viagem de circum-navegação do globo.
Refira-se que, presentemente, por causa da candidatura da rota de Fernão de Magalhães a Património Mundial da UNESCO, têm existido focos de tensão entre Portugal e Espanha. O Ministério da Cultura espanhol acusou Portugal de ignorar o papel de Espanha e do seu navegador Juan Sebástián Elcano (que assumiu o comando da expedição após a morte de Magalhães) na candidatura submetida à UNESCO. Recentemente, o historiador português José Manuel Garcia, citado pelo diário espanhol ABC, afirmou que Elcano "completou a volta ao Mundo ilegalmente", considerações que terão desagradado em Espanha.

Instado pelo JN a comentar o assunto, Rui Loureiro, que também é especialista na matéria, desvalorizou a polémica. "Na verdade, o Magalhães foi quem teve a ideia, quem iniciou a viagem, mas o Elcano é que a concluiu. Os diferentes pontos de vista são bons para se chamar a atenção para o assunto e para que se fale da importância que o feito teve".





































Reportagem fotográfica de António Pereira, texto extraído do D.N.