sexta-feira, 21 de abril de 2017

Portugal no Tempo dos Flávios









Com o anúncio da realização na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa do Seminário Internacional de filologia “Editing and Commenting on the Silvae” organizado pelo Centro de Estudos Clássicos, estava criado o pretexto para realizar, conjuntamente, uma exposição-dossiê no Museu Nacional de Arqueologia que cruzasse a nossa leitura dos cinco livros em verso, as Silvas de Estácio (45-c.95), com os vestígios materiais recolhidos em território nacional que remetem para o tempo da Dinastia Flávia – que agrupa Vespasiano, Tito e Domiciano -, e que reinou em Roma e em todo o Império entre 69 e 96 d.C.

No tempo dos imperadores Flávios (Vespasiano, Tito, Domiciano), no tempo da arrasadora erupção do Vesúvio (79 d.C.), quando Roma era senhora do mundo, viveu o napolitano Estácio. Quis ser, como Vergílio fora no Século de Augusto(I a.C.), o grande poeta do seu tempo. Depois da monumental Tebaida, teve a ousadia de enfrentar Homero ao compor a inacabada (e genial) Aquileida. Entretanto, tomava forma a obra mais surpreendente, diversa de tudo o que havia sido escrito até então: as Silvas. De teor vincadamente panegírico, os poemas assinalam momentos relevantes da vida pública e familiar dos patronos de Estácio, recorrendo às mais invulgares e originais manobras literárias. Os homenageados são figuras endinheiradas de Nápoles e nada menos que o próprio imperador Domiciano, celebrados pelas suas qualidades intelectuais e artísticas e pelo esplendor das suas magníficas villae, descritas – tal o Palácio de Domiciano, no coração de Roma – como moradas quase divinas.

Nas Silvas, a necessidade de homenagear confunde-se com o princípio estético do contraste entre o gigantesco e o minúsculo – e este reflecte-se na poesia como nos trinta metros de altura do palácio de Domiciano, na colossal estátua equestre do imperador, ou no formato mínimo da brilhante estatueta de Hércules, na posse de um patrono. Fascinante documento da cultura material do século I d.C., as Silvas celebram técnicas e materiais de construção, ambientes de luxo (quantas villae na fabulosa Baía de Nápoles!), preciosos objectos de arte (como o Hércules de Vindex); e, ao celebrarem o temível Domiciano – “senhor e deus”, um “Hércules” fascinado pelo Egipto – as Silvas ajustam-se à dura realidade política que se impunha. Sob a forma de objectos resgatados aos passado, as Silvas de Estácio regressam hoje a um dos rios que imortalizaram: o Tejo de esplendoroso limo.

Assim nasceu o conceito. A exposição construiu-se então a partir de uma selecção de bens arqueológicos das reservas do Museu Nacional de Arqueologia, do Museu da Fundação Cidade da AMMAIA, do Museu de Sines e da Solubema - Empresa Transformadora de Mármores do Alentejo. O corpus da exposição é constituído por 27 peças arqueológicas que, de alguma forma, coincidem cronologicamente com o período dos Flávios. Nem todas, porém, coexistem com esta dinastia nesse curto espaço de 27 anos







































Reportagem fotográfica de António Pereira em Abril 2017